Particularidades no diagnóstico da insuficiência cardíaca em cães e gatos

    Particularidades no diagnóstico da insuficiência cardíaca em cães e gatos

    Cães e gatos têm adquirido uma importância cada dia maior nos lares das famílias brasileiras, que buscam mais qualidade de vida para o seu animal. O diagnóstico das enfermidades que acometem os animais domésticos se tornou um dos pontos principais para que este objetivo seja alcançado e entre todas as doenças que acometem a espécie canina e felina, poucas assustam tantos os tutores quanto as doenças cardíacas. As cardiopatias correspondem a cerca de 11% das enfermidades diagnosticadas em cães e gatos.

    Neste ponto é importante o médico veterinário diferenciar doença cardíaca de insuficiência cardíaca. Insuficiência cardíaca é uma síndrome clínica causada por uma doença cardíaca que resulta em disfunção sistólica ou diastólica (ou uma combinação de ambos) severa o bastante para provocar perfusão inadequada. Dentre as doenças cardíacas causadoras de insuficiência cardíaca, podemos citar a doença valvar crônica de mitral e cardiomiopatia dilatada nos cães, e a cadiomiopatia hipertrófica nos gatos.

    A suspeita de insuficiência cardíaca aparece quando o animal apresenta sintomas como tosse, cansaço, dispneia/ taquipnéia e fraqueza/ síncope.

    Uma particularidade da espécie felina é não apresentar tosse nos casos de insuficiência cardíaca por não apresentarem no pulmão receptores alveolares para tosse.

    Neste caso, o foco da pesquisa diagnóstica nos gatos que apresentam este tipo de manifestação clínica é a busca de enfermidades do trato respiratório. Já na espécie canina, a tosse é a principal manifestação de insuficiência cardíaca, e pode acontecer tanto por compressão de brônquios quanto edema pulmonar. Nestes dois últimos casos, o aumento atrial esquerdo significativo é fundamental no aparecimento deste tipo de sintoma , e deve ser usado como auxílio na diferenciação das causas de tosse no cão.

    O exame clínico criterioso realizado pelo médico veterinário é de fundamental importância para o diagnóstico de insuficiência cardíaca no cão e no gato. Alguns parâmetros como coloração de mucosas, tempo de preenchimento capilar, mensuração da pressão arterial sistêmica e produção urinária podem apresentar alterações nos casos de débito cardíaco reduzido secundário a cardiopatia, com perfusão tecidual inadequada.

    Neste caso, o paciente poderá apresentar mucosas hipocoradas, tempo de preenchimento capilar aumentado, pressão arterial sistêmica reduzida (ou normal), ou até mesmo, redução da produção urinária.

    Além disso, a auscultação cardíaca pode revelar a presença de sopro e/ou ritmo cardíaco irregular, que são indícios de anormalidades estruturais no coração. A presença de estertores pulmonares pode sugerir edema pulmonar em animais que apresentem insuficiência cardíaca congestiva esquerda.

    A solicitação de exames complementares se tornou em nosso meio médico veterinário uma das principais formas de auxílio ao diagnóstico de insuficiência cardíaca em cães e gatos. Uma das ferramentas mais importantes para este fim é a ecocardiografia, pois ela diagnostica anormalidades estruturais do coração, a consequência hemodinâmica da doença cardíaca, e avalia a função diastólica e sistólica ventricular.

    Por meio da mensuração de vários parâmetros, a ecocardiografia é capaz de auxiliar o clínico veterinário a concluir se a doença cardíaca diagnosticada é capaz de levar a insuficiência cardíaca. Portanto, a troca de informações entre o clínico geral e o profissional que realiza o exame ecocardiográfico é de fundamental importância, e traz muitos benefícios ao paciente. Além da ecocardiografia, muitos outros exames complementares podem ser realizados na busca de um diagnóstico preciso. A eletrocardiografia traz informações sobre a condução do impulso elétrico no coração, e é muito utilizada para o diagnóstico de arritmias cardíacas que possam ser causa ou consequência da insuficiência cardíaca no cão e no gato. Além disso, a radiografia de tórax também pode ser usada como auxílio ao diagnóstico, pois permite o acesso a informações de doenças do trato respiratório, além de consequências hemodinâmicas das cardiopatias, como o diagnóstico de edema pulmonar cardiogênico. Devo apenas ressaltar que pacientes que apresentem dispneia intensa, e que possam piorar clinicamente pelo posicionamento para a realização do exame complementar, devem primeiramente ser estabilizados. Portanto, precisamos nos lembrar que a clínica é sempre soberana. O complemento do diagnóstico virá com a realização de exames como ecocardiografia, eletrocardiografia e radiografia torácica, e a troca de informações entre o clínico geral e o profissional que realiza os exames do seu animal é de fundamental importância, e traz muitos benefícios ao paciente

     

    Lilian Caram Petrus
    Graduada em Medicina Veterinária pela Universidade Paulista em 2001. Mestre em Clínica Veterinária pela FMVZ/USP em 2006. Doutoranda em Clínica Veterinária pela FMVZ/ USP. 
    Trabalha em atendimento clínico cardiológico de cães e gatos, ecocardiografia e eletrocardiografia desde 2001. 
    Sócia proprietária do Pet Cor Cardiologia. Vice-presidente da Sociedade Brasileira de Cardiologia Veterinária.

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